Populações da zona do Parque Industrial da Matola respiram ar extremamente poluído
A relação homem ambiente é muito
desfavorável para o meio ambiente. Desde o surgimento da espécie humana, o
homem está degradando, primeiro através de queimadas, depois com a evolução,
surgem novas maneiras de agredir a natureza, com o advento da revolução
industrial e do capitalismo a máquina que isso se tornou destrói a natureza,
apesar do homem depender da natureza para tudo. Ele a destrói. A indústria é a
maior responsável pela degradação ambiental, não respeita as florestas e as
derrubam para utilizar-se de seu local e construir seus parques industriais ou
para usar a madeira.
Uma avaliação
feita ao ar que se respira na zona das principais indústrias da Matola, com
particular destaque para a Mozal e Cimentos de Moçambique, apresenta uma
conclusão assustadora: as populações que vivem naquela zona respiram um ar
altamente poluído, com uma concentração de poeiras muito acima do nível
estabelecido pela Organização Mundial da Saúde, OMS.
A Organização
Mundial da Saúde estabelece que o nível de poeiras que se deve concentrar no ar
respirável, não pode ultrapassar 25 miligramas por metros cúbicos dentro de 24
horas.
Entretanto, da referida avaliação, feita em três locais
diferentes o nível do município da Matola e arredores, concluiu-se o seguinte:
Na primeira semana, por exemplo, na zona do parque
industrial de Beluluane, os investigadores da Ground Work constataram que a
concentração de poeiras no ar era de 31.61 miligramas por metros cúbicos,
dentro de 24 horas, e que as partículas mais abundantes no ar daquela zona eram
de alumínio, ferro, zinco e cálcio.
Na segunda semana, os mesmos investigadores analisaram o
ar da cidade da Matola e constataram que o mesmo continha nível de concentração
de partículas venenosas de 110.61 miligramas por metros cúbicos, dentro de 24
horas, quer dizer, quatro vezes mais do que o recomendado. Essa é a mais alta
concentração de poeiras na história do país.
Naquela zona, as partículas mais abundantes são de ferro,
alumínio, zinco e de cálcio.
Estes dados mostram uma poluição do ar acima do normal,
mesmo antes de a Mozal iniciar a emissão de gases para a atmosfera sem filtro.
Recorde-se que esta multinacional dissera, que os gases e
fumos poluentes emitidos durante as suas actividades estão dentro dos
parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde.
Essa informação foi corroborada pelo governo de
Moçambique, através do Ministério para a Coordenação da Acção
Ambiental, MICOA que, nessa altura, afirmou ter encomendado um estudo sobre o
impacto ambiental do bypass na Mozal.
O mesmo, segundo o
MICOA, foi efectuado pelos estudantes da Universidade Eduardo Mondlane e outros
especialistas não identificados, e concluíra que não haveria nenhum risco de
saúde pública muito menos ambiental. Foi com base deste estudo que o MICOA
autorizou o bypass.
Entretanto, a Justiça Ambiental não estabelece uma
relação directa das poluições da Matola com as actividades exclusivas da Mozal,
dado que existem, lá, outras e várias indústrias.
“Mas está tem, também, a sua contribuição. Isso pode ser
testemunhado pela presença de maior concentração de partículas de alumínio no
ar recolhido”, disse Vanessa Cabanelas, da Justiça Ambiental, acrescentando
depois que, para que se saiba com detalhes as indústrias que provocam maior
nível de poluição seria necessário um estudo mais aprofundado.
As referidas poeiras são denominadas PM 2.5 e são
partículas originadas, exclusivamente, pelas actividades industriais. As mesmas
são quatro vezes menores que a poeira normal causada, por exemplo, pelo vento
ou outra actividade normal – a chamada PM 10.
Rico Euripidou, um especialista ambiental sul-africano
ligado à Groud Work, explicou ao nosso jornal que, devido às suas
características, estas poeiras (PM2.5) têm a capacidade de penetrar até ao
ponto mais recôndito dos pulmões humanos.
Riscos de saúde
Estas partículas, tal como explicou Rico, causam sérios
problemas de saúde no sistema respiratório, provocando doenças pulmonares,entre outras, sobretudo nos asmáticos e nas crianças.
Romeu Fabião residente no bairro de Bluluane, afirmou a
nossa reportagem que os problemas da poluição das indústrias da Matola tem
estado a prejudicar seriamente a saúde das comunidades uma vez que nos últimos
dois anos tem-se registado o aparecimento de várias doenças neurológicas
naquele bairro com destaque para ao câncer, e sinusite, bem como a influência
na produção dos solos daquela parcela da Matola.
Dados colhidos no Hospital Provincial da Matola, e centro
de saúde de Beluluane mostram que nos últimos anos o número de pacientes que
tem dado entrada naquelas unidades sanitárias padece de doenças provenientes da
poluição do meio ambiente.
Segundo o relatório anual de actividades do Hospital
Provincial da Matola e o centro de saúde de Beluluane no ano de 2015 foi
possível constatar o seguinte:
Esse tipo de
poluição causa efeitos no aparelho respiratório que não podem ser desprezados. A
cada ano na Matola,75 mortes são causadas pela poluição do ar, existem 265
internações por asma, 240 internações por outras doenças respiratórias, 3.500
visitas ao serviço de urgência, 180.000 exacerbações de asma, 930.000 dias com
restrições a actividades e 2.000.000 de dias com sintomas respiratórios agudos.
Pesquisas
realizadas na Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane mostram
que em cidades como Matola, a expectativa de vida é em média um ano e meio
menor que em cidades do interior. Também foi relatado que para cada aumento de
100 µg/m³ na concentração de MP em 24 horas, houve o aumento de 8,17 mortes de
adultos por dia, representando um crescimento de 13% na mortalidade diária. Já
em relação às crianças, o estudo revelou associação significativa somente com
os óxidos de nitrogénio (NOx).
Por meio desta
reportagem, foi possível observar algumas lacunas relacionadas ao controle
ambiental da concentração de poluentes em certas regiões da Matola. Realizar efectivamente
o monitoramento, bem como a fiscalização da emissão desses poluentes não é uma
tarefa tão fácil e simples. O MICOA, como órgão ambiental responsável pela fiscalização,
poderia ampliar sua rede de telemetria, aumentando os pontos de monitoramento e
melhorando a qualidade dos dados disponibilizados pela própria Instituição.
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